A SOMA DO QUE SOMOS
Olhe bem pra mim e não esqueça disso
Me veja como um bicho
Me trate como um lixo
Nunca fui sujeito homem
Sou o produto do rejeito
Do dejeto
Da fome
Condenado a viver na merda
Na guerra
Nunca fui tão humilhado o quanto sou fera
Sou a soma
O resultado de seus métodos
Nas minhas veias corre o esgoto à céu aberto
Nunca fui feto
Quando muito um parasita
Tomando à força da velha doméstica
Sua própria vida
Ferida aberta ressecada
Escada abaixo na evolução humana
Quem ama não mata, maltrata, aprisiona
Receito
Que pela falta de recreio nas horas
Eu seja
O pobre, a puta, o preto, o feio
A mais pura ruindade
Entre um drink e outro celebrem
Toda a minha infelicidade
12 anos de vida
E já trancafiado numa cela fedida
Cascatas de lágrimas no seio da minha família
Uma salva de palmas nos palcos do genocida
Um número na estatística de mais uma infância perdida
Um gatilho meu melhor amigo, Profissão: perigo
O tucano a serviço da águia
Trás mágoas consigo
Um moleque cheira cola, fuma maconha
Mata e rouba como sonha o imperialismo
Me estuprem, me torturem
Como quer a mídia
Que eu ponho fogo no colchão da burguesia
Se eu não tenho sonhos
Eles tem insônia e inseticida
190 não descansa vem me dedetiza
Baixada, morro, favela, proletários
Pros letrados ensinam
Sangue azul enche a caneta de quem rima
Sou viela, sou da quebra, sou periferia
Um Frankestein latino, um preto nordestino
E nem deu tempo de ser menino
Profanaram meu corpo, meu templo
E eu blasfemo como bate o sino
Enquanto isso intelectuais suínos, sorrindo
Distribuem facas de costa à costa em seus amigos íntimos
Dizia a canção da possessividade
Amigo?
É coisa pra se guardar debaixo de sete chaves
Isso é empírico, se respiro, vivo!
Tenso, logo existo
Nem o dobro da maldade dos traíras
Que só atacam no calado, e do combate se retiram
Puderam acalmar a minha ira
Sou feito de favela, pode ver a etiqueta
Mais um cabeça chata de pele preta
Um desgraçado enviado pelas tretas
Respeita!
A fita eu canto, eu rimo
Quer saber quem eu sou?
Reflita...
Pequenos pezinhos, descalços na trilha
Pequenas mãozinhas, fecham os punhos
E lideram mais um família
Em marcha!
Marcham pelas próprias vidas
De posse da foice, da enxada, do facão
Como mestres da esgrima, revelam tamanha maestria
Celebrando a lida entre irmãos
Duas décadas de luta, e a labuta dá fruta-pão
Pão nosso de cada dia
Entoa a canção da maldição à burguesia
E se as trevas da udr nos armarem uma teia
As almas de Eldorado vem nos alumia
E não é a toa que a internacional ecoa
Bandeira vermelha que tremula e voa
Debaixo de um sol de sertão
Ou cruzando a Ipiranga com a São João
Debaixo da garoa
Todo favelado é sem terra
Liberta a vontade vermelha
Todo sem terra é da quebra
A negritude, atitude semeia
Carreguei o tambor com as vogais
Desrespeitei a concordância verbal
Puxei o cão do ponto continuando
Mudei de tema, teorema, problema aritmético
Eu sou o excedente sem dentes
O fator ético, nego sabido, sujeito eclético
Inconformados os ricos, inventam outro mundo
Do outro lado do muro
Recheiam suas pelúcias
Com o medo do escuro
Só não esqueçam que sou feito de favela
E isso é mais que aço
Comprem belos ternos pros seus cães
E se eu passo:
“Desconjuro”
- Eu ouço
Faça isso não seu moço
Que eu ou tão louco, estranho
Que ainda estando no fundo do poço
Eu uso seu crânio e cavo mais um pouco
Sou feito de favela
A preta velha chorando num final de novela
Um corpo sangrando, a sequela
Minha quebra é playground macabro
Ornamentando com velas
Graças à ROTA eu tropeço
No cemitério clandestino
Gasto toda a tarde de domingo
Eu e meu menino
Montando o quebra-cabeças,
- Ou o quebra-cadáver?
Tanto faz
Eu adoro vê-lo sorrindo
Sou assim mesmo, um erro
O desagradável, o descartável
O memorável nada
Que quando morre vira tudo
Na quebra, vestido de festa é luto
E se não luto, me arrasto ainda vivo
Puto!
Por receber um mundo assim tão imundo
Não é lindo?
Nossas mães que eram moças direitas
Nós sempre fomos zeros à esquerda
Nos rebanhos de ovelhas negras
Descemos ao covil dos lobos, das tretas
E de ovelha à coiote, anote
É só sair da mira da escopeta
Cansei de ser um alvo fixo
Creci prolixo
Ou pro lixo?
Num sei, preciso me repetir
Saber por onde ir
Feito de favela não tem nome
Assim ninguém nota quando some
Então faça a soma
Some a soma do que somos
100 infância
10 preparado
1 fudido
Subtraio o sorriso da cara do inimigo
Multiplico as ações contra o capitalismo
Divido entre os meus a verdade dos livros
Pois a soma do que somos...
Some e assume
O extraordinário como cotidiano
Quando
Todo o dinheiro ou seus donos
Já não somam mais
Que o futuro dos seres humanos
Hermanas, hermanos de tão pretos vermelhos
De tão pobres, guerreiros
A foice e o martelo equaciona
A soma de todo o planeta
Nos afasta dos traíras e das tretas
E a soma do que somos
Torna-se na soma de nossos sonhos
O resultado de igualdade entre os homens
Preto Ghóez, é vocalista do Clã-Nordestino
Filiado ao M.H.H.O.B.
Está finalizando seu primeiro livro, um romance: A sociedade do Código de Barras – Volume I
Contatos: ghoez@hotmail.com.br
(11) 9402-5423
Olhe bem pra mim e não esqueça disso
Me veja como um bicho
Me trate como um lixo
Nunca fui sujeito homem
Sou o produto do rejeito
Do dejeto
Da fome
Condenado a viver na merda
Na guerra
Nunca fui tão humilhado o quanto sou fera
Sou a soma
O resultado de seus métodos
Nas minhas veias corre o esgoto à céu aberto
Nunca fui feto
Quando muito um parasita
Tomando à força da velha doméstica
Sua própria vida
Ferida aberta ressecada
Escada abaixo na evolução humana
Quem ama não mata, maltrata, aprisiona
Receito
Que pela falta de recreio nas horas
Eu seja
O pobre, a puta, o preto, o feio
A mais pura ruindade
Entre um drink e outro celebrem
Toda a minha infelicidade
12 anos de vida
E já trancafiado numa cela fedida
Cascatas de lágrimas no seio da minha família
Uma salva de palmas nos palcos do genocida
Um número na estatística de mais uma infância perdida
Um gatilho meu melhor amigo, Profissão: perigo
O tucano a serviço da águia
Trás mágoas consigo
Um moleque cheira cola, fuma maconha
Mata e rouba como sonha o imperialismo
Me estuprem, me torturem
Como quer a mídia
Que eu ponho fogo no colchão da burguesia
Se eu não tenho sonhos
Eles tem insônia e inseticida
190 não descansa vem me dedetiza
Baixada, morro, favela, proletários
Pros letrados ensinam
Sangue azul enche a caneta de quem rima
Sou viela, sou da quebra, sou periferia
Um Frankestein latino, um preto nordestino
E nem deu tempo de ser menino
Profanaram meu corpo, meu templo
E eu blasfemo como bate o sino
Enquanto isso intelectuais suínos, sorrindo
Distribuem facas de costa à costa em seus amigos íntimos
Dizia a canção da possessividade
Amigo?
É coisa pra se guardar debaixo de sete chaves
Isso é empírico, se respiro, vivo!
Tenso, logo existo
Nem o dobro da maldade dos traíras
Que só atacam no calado, e do combate se retiram
Puderam acalmar a minha ira
Sou feito de favela, pode ver a etiqueta
Mais um cabeça chata de pele preta
Um desgraçado enviado pelas tretas
Respeita!
A fita eu canto, eu rimo
Quer saber quem eu sou?
Reflita...
Pequenos pezinhos, descalços na trilha
Pequenas mãozinhas, fecham os punhos
E lideram mais um família
Em marcha!
Marcham pelas próprias vidas
De posse da foice, da enxada, do facão
Como mestres da esgrima, revelam tamanha maestria
Celebrando a lida entre irmãos
Duas décadas de luta, e a labuta dá fruta-pão
Pão nosso de cada dia
Entoa a canção da maldição à burguesia
E se as trevas da udr nos armarem uma teia
As almas de Eldorado vem nos alumia
E não é a toa que a internacional ecoa
Bandeira vermelha que tremula e voa
Debaixo de um sol de sertão
Ou cruzando a Ipiranga com a São João
Debaixo da garoa
Todo favelado é sem terra
Liberta a vontade vermelha
Todo sem terra é da quebra
A negritude, atitude semeia
Carreguei o tambor com as vogais
Desrespeitei a concordância verbal
Puxei o cão do ponto continuando
Mudei de tema, teorema, problema aritmético
Eu sou o excedente sem dentes
O fator ético, nego sabido, sujeito eclético
Inconformados os ricos, inventam outro mundo
Do outro lado do muro
Recheiam suas pelúcias
Com o medo do escuro
Só não esqueçam que sou feito de favela
E isso é mais que aço
Comprem belos ternos pros seus cães
E se eu passo:
“Desconjuro”
- Eu ouço
Faça isso não seu moço
Que eu ou tão louco, estranho
Que ainda estando no fundo do poço
Eu uso seu crânio e cavo mais um pouco
Sou feito de favela
A preta velha chorando num final de novela
Um corpo sangrando, a sequela
Minha quebra é playground macabro
Ornamentando com velas
Graças à ROTA eu tropeço
No cemitério clandestino
Gasto toda a tarde de domingo
Eu e meu menino
Montando o quebra-cabeças,
- Ou o quebra-cadáver?
Tanto faz
Eu adoro vê-lo sorrindo
Sou assim mesmo, um erro
O desagradável, o descartável
O memorável nada
Que quando morre vira tudo
Na quebra, vestido de festa é luto
E se não luto, me arrasto ainda vivo
Puto!
Por receber um mundo assim tão imundo
Não é lindo?
Nossas mães que eram moças direitas
Nós sempre fomos zeros à esquerda
Nos rebanhos de ovelhas negras
Descemos ao covil dos lobos, das tretas
E de ovelha à coiote, anote
É só sair da mira da escopeta
Cansei de ser um alvo fixo
Creci prolixo
Ou pro lixo?
Num sei, preciso me repetir
Saber por onde ir
Feito de favela não tem nome
Assim ninguém nota quando some
Então faça a soma
Some a soma do que somos
100 infância
10 preparado
1 fudido
Subtraio o sorriso da cara do inimigo
Multiplico as ações contra o capitalismo
Divido entre os meus a verdade dos livros
Pois a soma do que somos...
Some e assume
O extraordinário como cotidiano
Quando
Todo o dinheiro ou seus donos
Já não somam mais
Que o futuro dos seres humanos
Hermanas, hermanos de tão pretos vermelhos
De tão pobres, guerreiros
A foice e o martelo equaciona
A soma de todo o planeta
Nos afasta dos traíras e das tretas
E a soma do que somos
Torna-se na soma de nossos sonhos
O resultado de igualdade entre os homens
Preto Ghóez, é vocalista do Clã-Nordestino
Filiado ao M.H.H.O.B.
Está finalizando seu primeiro livro, um romance: A sociedade do Código de Barras – Volume I
Contatos: ghoez@hotmail.com.br
(11) 9402-5423
No comments:
Post a Comment