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Thursday, October 20, 2005

Realidade Paralela (Marco Garcia)

REALIDADE PARALELA
Marco Garcia
O que é realidade? A vida que um ser humano leva desde seu primeiro choro, minutos após vir ao mundo, por graça de sua genitora, até o seu derradeiro suspiro, pode ser considerada uma vivência real?
Até que ponto o ser humano tem a devida certeza de que todos os momentos dele neste mundo fizeram parte de um conjunto homogêneo de atividades, das quais, apenas o que foi concreto prevaleceu? Ou, até que ponto as coisas abstratas - que têm um poder de influência bem maior no homem, pelo fato de ser algo invisível e, portanto, incontrolável - não ditaram o ritmo de todos os detalhes que compuseram o todo de uma geração inteira?
Quantos não foram os danos ou até mesmo, quão letais não foram, para a humanidade, as decisões tomadas por aqueles que detêm o poder, na calada da noite, sem que ao menos dessem chances para que os cidadãos, com um tempo adequado, pudessem se defender?
A doença que mais causa danos ao organismo humano é exatamente aquela que, silenciosamente, consome as vísceras sem que o paciente se dê conta e tenha tempo hábil para uma possível salvação.
O homem não deve ter medo das coisas que ele pode acompanhar de perto através da sua infinita capacidade ótica. Mas, ele tem que se manter atento e ficar sempre alerta ao que lhe pode acontecer por gosto de outrem que, com interesses vãos, destroem sonhos alheios e constroem, para si, castelos ilusórios, com os quais ratificarão a sua ânsia pelo domínio das coisas concretas que há na superfície do globo terrestre.
O homem nasce, cresce e, a partir de certo ponto de sua existência, ele é praticamente obrigado a conceder as ações de sau vida para que outros as gerenciem. A partir daí, ele é obrigado a se desligar da sua realidade vivida e passar a viver numa outra realidade, estrategicamente construída, com o único intuito de controlá-lo, para que a simetria forjada por alguns não seja quebrada e fique intacta a densa corrente dominadora.
O cidadão brasileiro, por exemplo, pode, com extrema facilidade, ser citado , aqui, como um dos que não vivem as suas próprias realidades. Hoje, com o boom da tecnologia e da tirania da globalização e do capitalismo assassino, o mundo se transformou numa imensa aldeia. Os espaços que outrora existiam entre nações, virou peça de ilusionismo.
Os países mais pobres do mundo foram sufocados e sangrados naquilo que eram primordiais para uma convivência harmônica entre os povos: A sua cultura. E o Brasil, um Estado falido, onde as instituições que formam a base de uma nação democrática como educação, saúde e igualdade social, desmoronam, não é uma exceção. Infelizmente, ele está inserido na regra que rege as ações nos quatro cantos do mundo.
Podemos trazer, aqui, a título de ilustração, alguns detalhes que, às vezes, passam despercebidos, mas que comprovam a realidade paralela que o cidadão brasileiro vive desde há muito tempo.
Há quanto tempo, na mesa do brasileiro, o suco de frutas, característico de um país tropical, como o nosso, foi mortalmente substituído por um refrigerante de uma marca mundialmente conhecida?
Há quanto tempo, no guarda-roupa do brasileiro estão alojados as calças Jeans, os bonés e os tênis de marcas famosas que todo mundo sabe de onde são originários e, conseqüentemente, não são marcas brasileiras?
Quantos brasileiros não circulam pelas ruas das capitais deste país vestidos com camisetas com dizeres que nem de longe condizem com o idioma que é falado em sua pátria?
Um cidadão desavisado que ligar o seu rádio em emissoras FMs nacionais, ficará confuso, intrigado e inseguro quanto à certeza de estar, realmente, na sua terra natal, devido a grande quantidade de músicas com linguagem indecifrável que ouvirá.
Ao reunir a família para passear, o cidadão das grandes capitais do Brasil, certamente irá levá-la ao "Shopping Center" e comprará artigos em lojas que estampam as vitrines com cartazes escritos "50% OFF for sale". Ou quando quer pedir comida via fone, a esposa pergunta ao marido: "Querido, qual o número do delivery?"
Vai me dizer que você nunca foi a um restaurante especializado em "Fast Foods"?
Sejamos sinceros, nós, cidadãos brasileiros, estamos vivendo a realidade de quem? Em que parte da nossa vida estão inseridas as nuances culturais de nosso país?

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