EnsaiAço

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Livre Ensaio para o R.A.P

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Livre Ensaio Para o R.A.P na Zona Sul de São Paulo

Friday, November 18, 2005

textos de Leonardo Tessitore

Salve Rapa do Indústria, hoje vamos conferir Leonardo Tessitore e seus textos chaves, o email do garoto é leotessi@hotmail.com mande seus comentários.
ai vai....segura....

Pelo buraco de um cu (Leonardo Tessitore)


Se toda nossa vida fosse transformada em algo sólido, que pudéssemos usar todos os nossos sentidos para saboreá-la , com certeza nossas vidas seriam transformadas em grandes merdas. Grandes bostas acinzentadas
com pequenos pedaços multicoloridos luminosos pulsando sobre toda aquela superfície morta. A luminosidade são aqueles momentos eternos que vamos lembrar antes de morrer, aqueles poucos momentos no final de semana , quando realmente aproveitamos a vida e deixamos o trabalho escravo de lado...será que apenas esses momentos fazem a vida valer a pena ????
Na maioria do tempo vivemos a mesma repetição cinza e morta de momentos.Tardes chuvosas, dias com dores de cabeça ou de mal humor, 11 anos de escola, o atormento dos pais, as incontáveis tardes na igreja rezando pra não ir pro inferno “Deus eu prometo que não bato mais punheta” medo do prazer.
E o melhor de nossos tempos, a grande contribuição do capitalismo, o marco na historia da humanidade, , a frase mais genial dita pelos yuppies-filósofos de Wall Street :

“Time is money”

Sim, tempo é dinheiro, e nós cada dia mais estamos nos tornando subservientes maquinas do acumulo de capital. Trocando o sentir pelo comprar, o ser pelo ter e as nossas vidas por míseros finais de semana.
Pelo buraco de um cu passariam todos aqueles momentos prazerosos e eternos que vivem em nossas mentes e almas, e que passamos o resto de nossas vidas tentando repetir. A foda inesquecível, a euforia dos acordes daquela musica, aquele dia inesquecível que o vinho entorpeceu seu corpo e te mostrou o desregramento dos sentidos, a loucura sacra que Dionísio insiste em te mostrar e você torna a negar, tudo que é proibido vão e mesquinho que os seus instintos estão a pedir. Então se livre desse medo, esqueça as convenções, as regras feitas pelos outros, e sinta o que sua alma pede, o que o seu corpo clama, pegue o martelo de Nietzsche e imagine todos aqueles que te encapsularam dentro dessa redoma cinza de rotina de medo e repressão e esmague-os. Vejo o medo morrer, o sangue ferver, seu coração pulsar, e novamente você se sente vivo, e agora é para sempre.
Viver intensamente cada dia. Despertar sua alma novamente deixando suas vontades fluírem. Ouça o barulho da água, a força da correnteza .A vida é assim forte , intensa. Não somos obrigados a fazer da vida uma jornada em busca de dinheiro, de uma verdade imposta pelos outros , enquanto nossa alma morre de desgosto e de tédio. Morra de prazeres, de vodka, de loucura. Melhor assim do que morrer em vida crucificado pela busca incessante do acumulo de capitais. Dionísio lhe peço.
Loucura, intensidade, e o desejo pela vida sempre, amém.


Não quero morrer em um quarto coberto de ouro prata e tecnologia. Velho, amargo, caiando aos pedaços, regando minhas plantinhas e fazendo carinho no meu animal de estimação, dando tudo para ter 20 anos e sentir a pauduressência de Dioniso novamente tocar o fundo de minha alma, aquela vontade de me embebedar, rir e foder, gozar com a vida, sem medos. Não quero, eu quero sentir a morte , quero vê-la de olhos abertos , beber sentir seu gosto, ela viva ao mão lado ,mãos dadas , esperando a hora dela me foder e acabar com a dor viver. Eu quero morrer. Morrer de prazeres, de vodka, de loucura .Melhor assim do que morrer em vida, de tédio.

Trabalhando em empregos que não gostamos para comprar merdas que não precisamos. Ou você precisa de um nike shox ???? Ou de um abridor de lata elétrico ??? Eu não trocaria um minuto do meu ócio criativo fajuto por esta merda. Ou por toda essa merda que aparece na tv. Necessária para alguns. Uma cama , alimento pro corpo (comida) , alimento pra alma (arte) e divertimento já me bastam.Não quero penduricalhos de ouro superestimados para encobrir a minha insegurança, não quero nada encobrindo a minha natureza. Quanto menos você tem, você percebe que menos precisa.Você precisa apenas do seu eu saciado, empanturrado, saboreando a essência da vida,o riso, o sexo, a criação, a reflexão,os seus instintos reais saciados e não as vontades exteriores.Eis o gozo do viver !!! Você sente o sangue finalmente correndo pelas veias, pulsando, ardendo, borbulhando de tesão. Nada daquela vidinha tributável tediosa capitalista-neo-liberal em que os picos de felicidade são os seus cigarros, as suas doses de whisky ou dar aquela trepadinha fora do casamento. Ou a fuga no final de semana, enchendo a cara de álcool, cocaína ou qualquer outra merda e se envolvendo com qualquer porra que você encontre por ai. Você precisa de mais, você precisa sentir a verdade, a verdade do instinto humano vivendo em você, aflorando em você, se libertando dos seus medos impostos pela “mamãe” ou pelo “papai” que criaram um bunda mole que tem medo de bater punheta ou dizer um simples porra. Você não pode fugir da correnteza da natureza. Deixe o rio fluir nada mais de regras exteriores, os seus sentimentos finalmente te controlam, Deus se encontra dentro de você e não fora.

Saturday, October 29, 2005

O Grande Assalto (Garrett)

O Grande Assalto


Avenida Santo Amaro. Às 13 h.

Um homem mal vestido para em frente a uma concessionária de automóveis fechada e nota as bolas promocionais amarradas à porta.

Um policial desce da viatura, olha para todos os lados e observa um suspeito parado em frente a uma concessionária. O suspeito está mal vestido e descalço.

Uma senhora sentada no banco do ônibus que pára na avenida para pegar passageiros comenta com a moça sentada ao seu lado que tem um mendigo todo sujo parado em frente a uma loja de automóveis.

Um senhor passa por um homem todo sujo. segura a carteira e começa a andar apressado. Logo que nota a viatura estacionada mais à frente, se sente seguro, amenizando os passos.

Um jovem tenta desviar de trás do ônibus parado, os policias que ele vê logo à frente lhe trazem desconforto, pais seu carro está repleto de drogas que serão comercializadas na faculdade onde estuda.

O homem malvestido resolve agir, dá três passos à frente, levanta as mãos e agarra duas bolas promocionais; faz a conta rapidamente e se sente realizado, quando pensa que ao vender as bolas comprará algo para beber.

Uma moça alertada pela senhora ao seu lado no ônibus, chama a atenção de vários passageiros para o homem que, segundo ela, é um mendigo, e diz alto que ele acabou de roubar algo na concessionária.

Um jovem com o carro cheio de drogas para vender na sua faculdade nota o homem correndo com duas bolas e dá ré no carro ao ver os policiais vindo em sua direção.

Um policial alcança o homem mal vestido e bate com o cabo do revólver em sua cabeça várias vezes; o homem tido como mendigo pelos passageiros de um ônibus em frente cai e as bolas rolam pelo asfalto.

Um motorista que dirige na mesma linha há oito anos tenta ficar com o ônibus parado para ver os policiais darem chutes e socos em um homem malvestido que está caído na calçada, mas o trânsito está livre e ele avança passando por cima e estourando duas bolas promocionais.

Garrett é autor entre outros de Com Cretas.

A bahia que Gil e Caetano não Cantou

A BAHIA QUE GIL E CAETANO NÃO CANTOU.

Iludidos, vê só quem chegou
Pode me chamar de Gato Preto, o invasor
Vou mostrar a Bahia que Gil e Caetano nunca cantou
Bahia regada a sangue real
Que jorra com intensidade em época de Carnaval

Falo do pescador que sai as três da manha
Pedindo forca a Iemanjá e a Iansã
Sai cortando as águas do mar da vida
Querendo pescar uma solução, uma saída

A Bahia da guerreira baiana que chora
Que travou uma luta e perdeu na batalha seu filho pra droga
Bahia do ser que vive de migalhas, esmolas
E água sem cloro ano seu rosto jorra

Bahia da queda dos morros, barracas dos Alagados
Bahia do descaso, descamisados, desabrigados
Falo da venda do voto, do voto comprado
ACM domina com chicote na mão e dinheiro do lado

A noite foi fria, só que agora o sol esta quente
O que não esquenta é o coração dessa gente
Que não se revolta contra a ordem predatória
ACM domina com chumbo, moeda e a palmatória

Desordem, desgraça, desamor, desemprego,
Descaso, disparate, danos, desespero
O poder baiano é doentio, processo
Quer disperder, manter o povo disperso

Separado, abandonado, longe aniquilado
Mentalmente algemado em cárcere privado
Mantendo o povo no curral tipo gado
Assim, com certeza garante o seu eleitorado

Não falo da beleza, da Barra, Pituba, Pelô
De praias lindas, de Porto Seguro, Ilhéus, Salvador
Da praça Castro Alves, Mercado Modelo, Elevador
Da historia de Mãe Menininha, Mãe Dulce e Dona Cano
Não falo da moça bela nas ondas do mar que Caymmi narrou

Relato o sofrimento da escravidão, do negro nagô
Da política perversa que o meu povo escravizou
Lembro da lavadeira, do lavrador
Do Velho Chico e do pescador

Falo da prostituição infantil que aumentou
Da Bahia que o cartão-postal nunca mostrou
A Bahia do mercado informal, do camelô
Essa é a Bahia que Bethânia nunca cantou

Vem conhecer a Bahia, sou um guia diferente
Mostro a verdadeira cara da nossa gente
Vai ver que não é só carnaval, praia e acarajé
Vai ver o que não ter alimento e manter-se de pé
Bahia de Todos os Santos? Besteira
Olho meu povo se alimentando de restos de feira

Terra de jagunço, policia assassina
Quantas mães perderam filhos nessa guerra fria?
Bahia titanic, Bateau Mouche
Educação, política seria não se discute

Vem comigo, calma, eu lê mostro logo
O lugar que as crianças morreram fabricando fogos
Somos náufragos nesse mar vermelho
E os botes salva-vidas são só para que tem dinheiro

Olha só a ilusão daquele bobo
Pensa que aqui é só mulher, samba e água de coco
Acredita no que a tevê passa, deve ta louco
Ele não sabe que a maioria aqui passa sufoco

Saudades de Betinho, um grande homem
Não esqueço da campanha contra a fome
Ele dizia: “Onde come um, dois também comem”
Solidariedade, vida, cidadania

Estas rosas morrem logo, se fossem eternas quem diria?
Se florescessem nos corações dos corruptos da Bahia...
Não posso ficar batendo o tambor, se sofreu o nego banto
Terra do meu herói, saudoso Milton Santos

Terra de mortes, crimes encobertos
Terra de riquezas pra poucos, miséria pro resto
Terra de cultura e rico dialeto
Os ignorantes dizem que o linguajar é incorreto

Bahia de coreografia pornográfica
Criança de doze anos excita magnata
Quando ele vê ela rebolando na garrafa
Cenas exibidas aos domingos na tela mágica

Jorge, Gabriela, Cravo e Canela
Ilhéus, becos, buracos, barracos, taperas
Linda, formosa, tão bela
Tiros, policias, drogas, favela

Espantosa tradição, atos absurdos
Quantas cabeças foram decapitadas em Canudos?
Engenho, seca, senhores, político, coronel
Trabalho escravo infantil em grande escala ou a granel

Turista, pega a câmara, vamos passar no farol
Mas não no Farol da Barra, do transito
Preparem-se, a visão é triste, causa espanto
Olhos famintos, pés descalços, pretos e brancos
Numa frase infeliz ouvi dizer que a Bahia é de todos os santos

O cronista a que se chama Gato Preto
Nascido em Ilhéus, no centro do gueto
Pele escura, olhos vermelhos, cabelos crespos
Antepassado africano, descendente negro
Pane, Extremamente salve do gueto
Todos descendentes do mesmo povo preto

A intenção é mostrar a verdadeira cara da minha terra
Sem inverdades, maquiagens, cenas de novelas
Desculpas pelas rimas pobres, poesia rústica
Mas essa é a Bahia que Gil e Caetano não canta em suas musicas.





GATO PRETO é rimador nato e mc do grupo de rap A Família.

Direto do Itaim.

TODO HOMEM É CULPADO DO BEM QUE NÃO FEZ




Gustavo trabalha a três anos numa metalúrgica em Cumbica, município de Guarulhos.
Todo dia ele sai de casa dez para cinco da manhã.
Caminha por ruas e vielas mal iluminadas até o ponto de ônibus, lá ele pega o Guarulhos via Cumbica que vem do Jardim da Oliveiras.
Gustavo ganha quatrocentos e vinte reais por mês, paga de aluguel duzentos e cinquenta.
Para ajudar no orçamento, sua mulher vende de tudo. Natura, Avon, e roupinhas de criança.
O casal tem dois filhos, Joice de quatro anos e Thiago de um ano e meio.
A maior revolta de Gustavo, é quando ele vê na TV que não existe inflação, parece que o FHC é presidente de outro país, porque aqui no Brasil, desde o plano real, a única coisa que não aumenta de jeito nenhum é o salário, aumentar pra quê se não existe inflação.
Já no supermercado, com donos bem brasileiros, tudo aumenta a toda hora.
A tempos que o padrão de vida na casa do Gustavo vem piorando, mas 2002 está insuportável.
Se não bastasse tudo isso, na metalúrgica existe um risco constante de corte, o encarregado vive pressionando todos a trabalhar mais, porque a empresa vai mal e um dia todos acabarão demitidos.
O dono da empresa não conversa com os funcionários, ele tem outros negócios e por isso passa umas duas, três horas por dia lá, depois parte no seu carrão importado.
O proprietário da casa que Gustavo mora, e que vive do aluguel de suas várias casas, quer elevar o valor do aluguel para trezentos e cinquenta reais, por ironia do destino alega que o custo de vida aumentou e lhe obriga a reajustar o aluguel, depois de muita discussão e negociação o valor fica definido em trezentos reais a partir de Maio de 2002.
Deste mês em diante a situação piorou de vez, constantemente falta alguma coisa.
Mas iam levando aos trancos e barrancos, esperando sempre por dias melhores.
Gustavo mora ao lado de uma favela no Itaim Paulista, extremo leste de São Paulo, a favela não lhe traz dor de cabeça, ele até joga no time do “Sangue B” que é bancado por traficantes do local, o futebol de Domingo é seu único lazer.
Dia destes acabou o gás na casa de Gustavo, ao chegar do serviço, mesmo a contra gosto foi forçado a pedir dinheiro emprestado ao dono da boca, sem cozinhar que não poderia ficar, se não bastasse as crianças ele tinha que levar marmita.
Foi quando o pior aconteceu, a metalúrgica cortou em setembro oito funcionários do seu quadro, entre eles Gustavo.
A indenização e o FGTS serviu para quitar algumas dívidas em atraso, para se previnir pagou o aluguel até dezembro, acreditava que se arrumasse logo outro emprego, teria sido até melhor.
Gustavo não perdeu tempo e partiu logo atrás de outra ocupação, no começo procurava emprego de Segunda a Sexta, mas o tempo foi passando e nada, o dinheiro foi acabando e já não dava para gastar com condução todo dia, passou a procurar mais no começo de semana, a cada Domingo com o caderno de emprego nas mãos, a esperança se renovava.
Gustavo viu as portas e mais portas se fecharem para ele, passou setembro, outubro, novembro.
Dezembro de 2002 e a situação já era insuportável, mês que vem tem o aluguel, e o final de ano prometia ser triste.
Gustavo chega cansado depois de mais uma Segunda-feira frustrante atrás de emprego, encontra a mulher chorando em casa, não tem mais comida para por na panela, nem leite pro filho pequeno.
Para evitar que passem fome ele se vê obrigado a vender seu aparelho de som, claro que por bem menos, mas foi como jogar um copo d´água no deserto, só resolveu a emergência, mas não curou a doença.
Domingo no campo, Gustavo se trocava para jogar bola, ao seu lado cinco homens conversavam, eles eram do time e envolvidos no crime, falavam de um assalto que iria acontecer, Gustavo ouviu eles falarem que a fita tinha sido dada e que não tinha erro, ia virar cerca de trinta mil reais, dividido em sete, no máximo em oito pessoas, entre eles o funcionário da firma assaltada e que deu o esquema, ele tinha cargo de confiança e estaria acima de qualquer suspeita.
Xandão falou: - a parada é depois de amanhã e falta um piloto de fuga, só temos um.
Gustavo ouvia tudo, pensou no dinheiro, na sua situação e movido pelo desespero ele falou: - Eu topo ser piloto, dirijo muito bem, podem confiar.
Debateram o fato de ele não ser do crime, e acabaram concordando porque ele falou que sua família estava prestes a passar fome. Gustavo estava envolvido.
A fita era o seguinte, por volta das onze horas da manhã, chegaria um Palio branco na Lanus Embalagens, nela estaria o irmão do dono da empresa, com ele o pagamento do salário e da Segunda parcela do décimo terceiro dos funcionários, se não for agora já era, porque a partir do ano novo o pagamento seria via banco.
O bando ficaria ao redor da firma, uns no boteco, outros andando até o Palio aparecer, quando o homem do dinheiro subir as escadas, os dois pilotos param os carros na esquina, o Nino enquadra o segurança, o Geléia dá cobertura na frente da firma, os demais sobem e fazem o assalto.
Chega o dia D, onze e vinte chegou o Palio com dois homens, descem com uma bolsa tipo de viagem, o plano foi posto em prática, o assalto foi rápido e sem problemas, os ladrões correm para os carros, conforme combinado cada carro seguiria um caminho.
Mas uma Blazer da polícia passou a perseguir o carro guiado por Gustavo.
Muitos gritos e desespero, mas Gustavo era realmente bom de volante, a perseguição foi longa e próximo a um matagal Gustavo parou e todos desceram, só ele seguiu sozinho para despistar de vez a viatura que não chegou a ver o desembarque dos demais ocupantes, só que a esta altura já não era só uma e sim várias viaturas, para piorar a situação chegou o apoio do Águia, helicóptero da polícia. O outro carro usado no assalto e que levara o dinheiro foi embora sem problemas.
Estavam em alta velocidade pela Avenida Aricanduva, quatro viaturas e o Águia na perseguição, foi quando para desviar de uma criança, Gustavo perdeu o controle e caiu no rio, morreu no acidente.
A polícia deu a notícia para família, a esposa de Gustavo mostrou os documentos do marido e afirmou nem imaginar sobre o assalto, mostrou inclusive a rescisão da última empresa que ele trabalhou.
A polícia percebeu a inocência da mulher e a deixaram em paz, o enterro foi feito com ajuda de parentes e vizinhos.
Dois investigadores rodearam a residência por uma ou duas semanas e encerraram as investigações sobre a família.
Natal de 2002, além da dor da perda, Dona Vera não sabia o que fazer, faltava comida, não existia brinquedos nem panetone, a situação era terrível e eles passaram com a ajuda de vizinhos.
Dia 31 de dezembro, na rua festa e fogos.
Dentro da casa Dona Vera chorava de saudade e de desespero.
Foi quando alguém bateu na porta, ela atendeu ainda enxugando as lágrimas, um homem de capuz entregou um pacote para ela e falou.
É parte do seu marido no assalto.
O homem partiu sem dizer mais nada.
A mulher contou três mil e setecentos reais, separou cem e foi comprar alguma coisa para os filhos comerem, o restante guardou numa mala em cima do guarda-roupa.
Uma semana depois ela se mudou com os filhos e nunca mais, nem em sonho ela voltaria ao Itaim Paulista.

Alessandro Buzzo, escritor, participou do Literatura Marginal Ato I, é autor do livro O Trem Baseado em Fatos Reais e Suburbano Convicto, O Cotidiano do Itaim Paulista.
Contato
www.suburbanoconvicto.blogger.com.br.

indicação.

salve, estou aqui para indicar um trampo novo do Chico César e dessa vez é um livro.
o titulo é Cantáteis, cantos eleg''iacos de amozade.
é um puta poema longo, e bem ilustrado por João Sánchez.
eu recomendo porque simplismente me lembra o cordel e é muito bem escrito.
ah! é da editora Garamond.
vale a pena.
Ferréz

Thursday, October 20, 2005

Resistência (Cacá)

Resistência

Depois do sono, o homem acorda,
Sua mente se abre seus olhos se fecham,
Não sei te sigo ou se te escuto.
Hoje ele vê o mundo sem sua opinião,
O que aprendeu nunca ensinou,
Teu passado morre, e o que resta nas cinzas das tuas lembranças, morre.
Ao som do timbre ecoado pelo grito das crianças que pagam o presente dado
Que antes não o fosse, toda sua, a culpa.
Nos natais cercados por uma muralha espessa.
Erguida com tijolos da ganância.
Rebocados com orgulho e valorizados pela posse,
Do que se pode tomar,
Que limita o ser a uma raça.
De fortes porem, nos restam o ossos,
Que envergam se rompem
De fortes porem, pode ser o estudo, a cultura.,
Semeada nas alturas,
Testemunhas do bem.
Como acha que devem lutar?
As pessoas não sabem mas o mundo em que vivemos
Só nos da a liberdade de escolher o que comprar
E aqueles que lhes é tirado esse direito não há liberdade aparente
Só a da mente, direcionada, focada a um objetivo o de reconstrução em massa.
VALHO O QUANTO POSSO!
POSSO O QUANTO GRITO!
GRITO O QUANTO SEI!
SEI O QUANTO EXISTO!

Cacá Capão - sp

Realidade Paralela (Marco Garcia)

REALIDADE PARALELA
Marco Garcia
O que é realidade? A vida que um ser humano leva desde seu primeiro choro, minutos após vir ao mundo, por graça de sua genitora, até o seu derradeiro suspiro, pode ser considerada uma vivência real?
Até que ponto o ser humano tem a devida certeza de que todos os momentos dele neste mundo fizeram parte de um conjunto homogêneo de atividades, das quais, apenas o que foi concreto prevaleceu? Ou, até que ponto as coisas abstratas - que têm um poder de influência bem maior no homem, pelo fato de ser algo invisível e, portanto, incontrolável - não ditaram o ritmo de todos os detalhes que compuseram o todo de uma geração inteira?
Quantos não foram os danos ou até mesmo, quão letais não foram, para a humanidade, as decisões tomadas por aqueles que detêm o poder, na calada da noite, sem que ao menos dessem chances para que os cidadãos, com um tempo adequado, pudessem se defender?
A doença que mais causa danos ao organismo humano é exatamente aquela que, silenciosamente, consome as vísceras sem que o paciente se dê conta e tenha tempo hábil para uma possível salvação.
O homem não deve ter medo das coisas que ele pode acompanhar de perto através da sua infinita capacidade ótica. Mas, ele tem que se manter atento e ficar sempre alerta ao que lhe pode acontecer por gosto de outrem que, com interesses vãos, destroem sonhos alheios e constroem, para si, castelos ilusórios, com os quais ratificarão a sua ânsia pelo domínio das coisas concretas que há na superfície do globo terrestre.
O homem nasce, cresce e, a partir de certo ponto de sua existência, ele é praticamente obrigado a conceder as ações de sau vida para que outros as gerenciem. A partir daí, ele é obrigado a se desligar da sua realidade vivida e passar a viver numa outra realidade, estrategicamente construída, com o único intuito de controlá-lo, para que a simetria forjada por alguns não seja quebrada e fique intacta a densa corrente dominadora.
O cidadão brasileiro, por exemplo, pode, com extrema facilidade, ser citado , aqui, como um dos que não vivem as suas próprias realidades. Hoje, com o boom da tecnologia e da tirania da globalização e do capitalismo assassino, o mundo se transformou numa imensa aldeia. Os espaços que outrora existiam entre nações, virou peça de ilusionismo.
Os países mais pobres do mundo foram sufocados e sangrados naquilo que eram primordiais para uma convivência harmônica entre os povos: A sua cultura. E o Brasil, um Estado falido, onde as instituições que formam a base de uma nação democrática como educação, saúde e igualdade social, desmoronam, não é uma exceção. Infelizmente, ele está inserido na regra que rege as ações nos quatro cantos do mundo.
Podemos trazer, aqui, a título de ilustração, alguns detalhes que, às vezes, passam despercebidos, mas que comprovam a realidade paralela que o cidadão brasileiro vive desde há muito tempo.
Há quanto tempo, na mesa do brasileiro, o suco de frutas, característico de um país tropical, como o nosso, foi mortalmente substituído por um refrigerante de uma marca mundialmente conhecida?
Há quanto tempo, no guarda-roupa do brasileiro estão alojados as calças Jeans, os bonés e os tênis de marcas famosas que todo mundo sabe de onde são originários e, conseqüentemente, não são marcas brasileiras?
Quantos brasileiros não circulam pelas ruas das capitais deste país vestidos com camisetas com dizeres que nem de longe condizem com o idioma que é falado em sua pátria?
Um cidadão desavisado que ligar o seu rádio em emissoras FMs nacionais, ficará confuso, intrigado e inseguro quanto à certeza de estar, realmente, na sua terra natal, devido a grande quantidade de músicas com linguagem indecifrável que ouvirá.
Ao reunir a família para passear, o cidadão das grandes capitais do Brasil, certamente irá levá-la ao "Shopping Center" e comprará artigos em lojas que estampam as vitrines com cartazes escritos "50% OFF for sale". Ou quando quer pedir comida via fone, a esposa pergunta ao marido: "Querido, qual o número do delivery?"
Vai me dizer que você nunca foi a um restaurante especializado em "Fast Foods"?
Sejamos sinceros, nós, cidadãos brasileiros, estamos vivendo a realidade de quem? Em que parte da nossa vida estão inseridas as nuances culturais de nosso país?

Monday, October 17, 2005

Com Cretas (Garrett)

Vida In Esperada

Vida
In esperada

O = é # dos D+
Por isso vc só
É – do q. pensa

2 palavra

Lucidez
Temporária

Dois palavra

O olho que
Nada haver

O meio do inicio não é o mesmo meio do fim

O que fiz para ser um feliz

Periferia favela

Toda
Unanimidade
Não é única

Anti placas

A engrenagem da mente é o que está parand...

Vende filhotes de ser humano

O espelho reflete o que você pensa que vê/espelho reflete o que você pensa que vê

Cada momento ficará só comigo

Explicar (no meio da palavra confudir)

Me deixa assistir existir

Palavrarmas

Capetalismo

S.R.D.
Sem razão definida

Diver t
Divi d r

De a a z não tem você
Abir soltos

Leio palavras
Conto números

Esperança
Espelunca
Espelir
Nunca

Esvvazivaiar
Esvaziva ar
Esvaz i ar
Va

Aso que tem tudo +
Aos que tem nada –

Transib
Ustaciação

Saturday, October 08, 2005

A Soma do que Somos (preto Ghóez)

A SOMA DO QUE SOMOS




Olhe bem pra mim e não esqueça disso
Me veja como um bicho
Me trate como um lixo
Nunca fui sujeito homem
Sou o produto do rejeito
Do dejeto
Da fome
Condenado a viver na merda
Na guerra
Nunca fui tão humilhado o quanto sou fera
Sou a soma
O resultado de seus métodos
Nas minhas veias corre o esgoto à céu aberto
Nunca fui feto
Quando muito um parasita
Tomando à força da velha doméstica
Sua própria vida
Ferida aberta ressecada
Escada abaixo na evolução humana
Quem ama não mata, maltrata, aprisiona
Receito
Que pela falta de recreio nas horas
Eu seja
O pobre, a puta, o preto, o feio
A mais pura ruindade
Entre um drink e outro celebrem
Toda a minha infelicidade
12 anos de vida
E já trancafiado numa cela fedida
Cascatas de lágrimas no seio da minha família
Uma salva de palmas nos palcos do genocida
Um número na estatística de mais uma infância perdida
Um gatilho meu melhor amigo, Profissão: perigo
O tucano a serviço da águia
Trás mágoas consigo
Um moleque cheira cola, fuma maconha
Mata e rouba como sonha o imperialismo
Me estuprem, me torturem
Como quer a mídia
Que eu ponho fogo no colchão da burguesia
Se eu não tenho sonhos
Eles tem insônia e inseticida
190 não descansa vem me dedetiza
Baixada, morro, favela, proletários











Pros letrados ensinam
Sangue azul enche a caneta de quem rima
Sou viela, sou da quebra, sou periferia
Um Frankestein latino, um preto nordestino
E nem deu tempo de ser menino
Profanaram meu corpo, meu templo
E eu blasfemo como bate o sino
Enquanto isso intelectuais suínos, sorrindo
Distribuem facas de costa à costa em seus amigos íntimos
Dizia a canção da possessividade
Amigo?
É coisa pra se guardar debaixo de sete chaves
Isso é empírico, se respiro, vivo!
Tenso, logo existo
Nem o dobro da maldade dos traíras
Que só atacam no calado, e do combate se retiram
Puderam acalmar a minha ira
Sou feito de favela, pode ver a etiqueta
Mais um cabeça chata de pele preta
Um desgraçado enviado pelas tretas
Respeita!
A fita eu canto, eu rimo
Quer saber quem eu sou?
Reflita...
Pequenos pezinhos, descalços na trilha
Pequenas mãozinhas, fecham os punhos
E lideram mais um família
Em marcha!
Marcham pelas próprias vidas
De posse da foice, da enxada, do facão
Como mestres da esgrima, revelam tamanha maestria
Celebrando a lida entre irmãos
Duas décadas de luta, e a labuta dá fruta-pão
Pão nosso de cada dia
Entoa a canção da maldição à burguesia
E se as trevas da udr nos armarem uma teia
As almas de Eldorado vem nos alumia
E não é a toa que a internacional ecoa
Bandeira vermelha que tremula e voa
Debaixo de um sol de sertão
Ou cruzando a Ipiranga com a São João
Debaixo da garoa
Todo favelado é sem terra
Liberta a vontade vermelha
Todo sem terra é da quebra











A negritude, atitude semeia
Carreguei o tambor com as vogais
Desrespeitei a concordância verbal
Puxei o cão do ponto continuando
Mudei de tema, teorema, problema aritmético
Eu sou o excedente sem dentes
O fator ético, nego sabido, sujeito eclético
Inconformados os ricos, inventam outro mundo
Do outro lado do muro
Recheiam suas pelúcias
Com o medo do escuro
Só não esqueçam que sou feito de favela
E isso é mais que aço
Comprem belos ternos pros seus cães
E se eu passo:
“Desconjuro”
- Eu ouço
Faça isso não seu moço
Que eu ou tão louco, estranho
Que ainda estando no fundo do poço
Eu uso seu crânio e cavo mais um pouco
Sou feito de favela
A preta velha chorando num final de novela
Um corpo sangrando, a sequela
Minha quebra é playground macabro
Ornamentando com velas
Graças à ROTA eu tropeço
No cemitério clandestino
Gasto toda a tarde de domingo
Eu e meu menino
Montando o quebra-cabeças,
- Ou o quebra-cadáver?
Tanto faz
Eu adoro vê-lo sorrindo
Sou assim mesmo, um erro
O desagradável, o descartável
O memorável nada
Que quando morre vira tudo
Na quebra, vestido de festa é luto
E se não luto, me arrasto ainda vivo
Puto!
Por receber um mundo assim tão imundo
Não é lindo?
Nossas mães que eram moças direitas
Nós sempre fomos zeros à esquerda
Nos rebanhos de ovelhas negras









Descemos ao covil dos lobos, das tretas
E de ovelha à coiote, anote
É só sair da mira da escopeta
Cansei de ser um alvo fixo
Creci prolixo
Ou pro lixo?
Num sei, preciso me repetir
Saber por onde ir
Feito de favela não tem nome
Assim ninguém nota quando some
Então faça a soma
Some a soma do que somos
100 infância
10 preparado
1 fudido
Subtraio o sorriso da cara do inimigo
Multiplico as ações contra o capitalismo
Divido entre os meus a verdade dos livros
Pois a soma do que somos...
Some e assume
O extraordinário como cotidiano
Quando
Todo o dinheiro ou seus donos
Já não somam mais
Que o futuro dos seres humanos
Hermanas, hermanos de tão pretos vermelhos
De tão pobres, guerreiros
A foice e o martelo equaciona
A soma de todo o planeta
Nos afasta dos traíras e das tretas
E a soma do que somos
Torna-se na soma de nossos sonhos
O resultado de igualdade entre os homens

Preto Ghóez, é vocalista do Clã-Nordestino
Filiado ao M.H.H.O.B.
Está finalizando seu primeiro livro, um romance: A sociedade do Código de Barras – Volume I
Contatos:
ghoez@hotmail.com.br
(11) 9402-5423

Terrorismo Literário

Manifesto de abertura: Literatura Marginal
Terrorismo Literário

A capoeira não vem mais, agora reagimos com a palavra, porque pouca coisa mudou, principalmente para nós.
Não somos movimento, não somos os novos, não somos nada, nem pobres, porque pobre segundo os poetas da rua, é quem não tem as coisas.
Cala a boca, negro e pobre aqui não tem vez! Cala a boca!
Cala a boca uma porra, agora agente fala, agora agente canta, e na moral agora agente escreve.
Quem inventou o barato não separou entre literatura boa/feita com caneta de ouro e literatura ruim/escrita com carvão, a regra é só uma, mostrar as caras. Não somos o retrato, pelo contrário, mudamos o foco e tiramos nós mesmos a nossa foto.
A própria linguagem margeando e não os da margem, marginalizando e não us marginalizados, rocha na areia do capitalismo.
O sonho não é seguir o padrão, Não é ser o empregado que virou o patrão, não isso não, aqui ninguém quer humilhar, pagar migalhas nem pensar, nós sabemos a dor por recebe-las.
Somos o contra sua opinião, não viveremos ou morreremos se não tivermos o selo da aceitação, na verdade tudo vai continuar, muitos querendo ou não.
Um dia a chama capitalista fez mal a nossos avós, agora faz mal a nossos pais e no futuro vai fazer a nossos filhos, o ideal é mudar a fita, quebrar o ciclo da mentira dos “direitos iguais”, da farsa dos “todos são livres” agente sabe que não é assim, vivemos isso nas ruas, sob os olhares dos novos capitães do mato, policiais que são pagos para nos lembrar que somos classificados por três letras classes: C,D,E.
Literatura de rua com sentido sim, com um principio sim, e com um ideal sim, trazer melhoras para o povo que constrói esse pais mas não recebe sua parte.
O jogo é objetivo, compre, ostente, e tenha minutos de felicidade, seja igual ao melhor, use o que ele usa.
Mas nós não precisamos disso, isso traz morte, dor, cadeia, mães sem filhos, lágrimas demais no rio de sangue da periferia.
Somos mais, somos aquele que faz a cultura, falem que não somos marginais, nos tirem o pouco que sobrou, até o nome, já não escolhemos o sobrenome, deixamos para os donos da casa grande escolher por nós, deixamos eles marcarem nossas peles, porque teríamos espaço para um movimento literário? Sabe duma coisa, o mais louco é que não precisamos de sua legitimação, porque não batemos na porta para alguém abrir, nós arrombamos a porta e entramos.
Sua negação não é novidade, você não entendeu? Não é o quanto vendemos, é o que falamos, não é por onde nem como publicamos, é que sobrevivemos.
Estamos na rua loco, estamos na favela, no campo, no bar, nos viadutos, e somos marginais mas antes somos literatura, e isso vocês podem negar, podem fechar os olhos, virarem as costas, mas como já disse, continuaremos aqui, assim como o muro social invisível que divide esse pais.
O significado do que colocamos em suas mãos hoje, é nada mais do que a realização de um sonho que infelizmente não foi visto por centenas de escritores marginalizados desse país.
Ao contrário do bandeirante que avançou com as mãos sujas de sangue nosso território, e arrancou a fé verdadeira, doutrinando nossos antepassados índios, ao contrário dos senhores das casas grandes que escravizaram nossos irmãos africanos e tentaram dominar e apagar toda a cultura de um povo massacrado mas não derrotado.
Uma coisa é certa, queimaram nossos documentos, mentiram sobre nossa história, mataram nossos antepassados.
Outra coisa também é certa, mentirão no futuro, esconderão e queimarão tudo que prove que um dia a classe menos beneficiada com o dinheiro fez arte.
Jogando contra a massificação que domina e aliena cada vez mais os assim chamados por eles de “excluídos sociais” e para nos certificar que o povo da periferia/favela/gueto tenha sua colocação na história, e que não fique mais 500 anos jogado no limbo cultural de um país que tem nojo de sua própria cultura, a literatura marginal se faz presente para representar a cultura de um povo, composto de minorias, mas em seu todo uma maioria.
E temos muito a proteger e a mostrar, temos nosso próprio vocabulário que é muito precioso, principalmente num país colonizado até os dias de hoje, onde a maioria não tem representatividade cultural e social, na real negô o povo num tem nem o básico pra comer, e mesmo assim meu tio, agente faz por onde ter us barato para agüentar mais um dia.
Mas estamos na área, e já somos vários, estamos lutando pelo espaço para que no futuro, os autores do gueto sejam também lembrados e eternizados, mostramos a várias faces da caneta que se faz presente na favela, e pra representar o grito do verdadeiro povo brasileiro, nada mais que os autenticos, e como a pergunta do menino numa certa palestra.
- como é essa literatura marginal publicada em livros.
Ela é honrada, ela é autentica e nem por morarmos perto do lixo, fazemos parte dele, merecemos o melhor, pois já sofremos demais.
O mimiógrafo foi útil, mas a guerra é maior agora, os grandes meios de comunicação estão ai, com mais de 50% de anunciantes por edição, bancando a ilusão que você terá que ter em sua mente.
A maior satisfação está em agredir os inimigos novamente, e em trazer o sorriso na boca da Dona Maria quando ver o livro que o filho trouxe para casa.
Vindo com muita mais gente e com grande prazer de apresentar novos talentos da escrita periférica.
Prus aliados o banquete está servido, pode degustar, porque esse tipo de literatura viveu muito na rua e por fim está aqui no livro.
Depois do lançamento dos três atos que fizemos juntamente com a revista Caros Amigos, edições especiais chamadas Caros amigos/literatura marginal ao qual a Casa Amarela desde o principio acreditou e apoiou, a forma agora chega em livro.
Mas como sempre todos falam tudo e não dizem nada, vamos dar uma explicada: A revista é feita para e por pessoas que foram postas a margem da sociedade.
Ganhamos até prêmios, como o da A.P.C.A.(Academia Paulista de Críticos de Arte) melhor projeto especial do ano.
Muitas são as perguntas, e pouco o espaço para respostas, um exemplo para se guardar é o de Kafka, a crítica convencionou que aquela era uma literatura menor. Ou seja, literatura feita pela minoria dos judeus em Praga, numa língua maior o Alemão.
A Literatura Marginal sempre é bom frisar é uma literatura feita por minorias, sejam elas raciais ou sócio-econômicas. Literatura feita a margem dos núcleos centrais do saber e da grande cultura nacional, ou seja os de grande poder aquisitivo. Mas alguns dizem que sua principal característica é a linguagem, é o jeito que falamos, que contamos a história, bom isso fica para os estudiosos, o que agente faz é tentar explicar, mas agente fica na tentativa, pois aqui não reina nem o começo da verdade absoluta.
Hoje não somos uma literatura menor, nem nos deixemos taxar assim, somos uma literatura maior, feita por maiorias, numa linguagem maior, pois temos as raízes e as mantemos.
Não vou apresentar os convidados um a um porque eles falarão por sim mesmos, é ler e verificar, só sei que com muitos deles eu tenho lindas histórias, várias caminhadas tentando fazer uma única coisa, o povo ler.
Cansei de ouvir.
- mas o que cês tão fazendo é separar a literatura, a do gueto e a do centro.
E nunca cansarei de responder.
- o barato já tá separado a muito tempo, só que do lado de cá ninguém deu um gritão, ninguém chegou com a nossa parte, foi feito todo um mundo de teses e de estudos do lado de lá, e do cá mal terminamos o ensino dito básico.
Sabe o que é mais louco, nesse pais você tem que sofrer boicote de tudo que é lado, mas nunca pode fazer o seu, o seu é errado, por mais que você tenha sofrido você tem que fazer por todos, principalmente pela classe que quase conseguiu te matar, fazendo você nascer na favela e te dando a miséria como herança.
Afinal um dia o povo ia ter que se valorizar, então é nóis nas linhas da cultura, chegando de vagar, sem querer agredir ninguém, mas também não aceitando desaforo nem compactuando com hipocrisia alheia, bom vamos deixar de ladainha e na bola de meia tocar o barco.
Boa leitura, e muita paz se você merece-la, se não bem vindo a guerra.

Agradecimentos a:
Sérgio de Souza
Marina Amaral
Wagner Nabuco
Guilheme Azevedo,
Garrett,
R.O.D.
Bolha.
E a todos os parceiros que tem acompanhado o L.M. e o Movimento 1DASUL, tamos de pé graças a vocês.

Ferréz


E como já é de praxe, aqui vai um recado pro sistema.

“ Evitem certos tipos, certos ambientes. Evitem a fala do povo, que vocês nem sabem onde mora e como. Não reportem povo, que ele fede. Não contem ruas, vidas, paixões violentas. Não se metam com o restolho que vocês não vêem humanidade ali. Que vocês não percebem vida ali. E vocês não sabem escrever essas coisas. Não podem sentir certas emoções, como o ouvido humano não percebe ultra-sons.”

João Antônio, trecho do livro Abraçado ao meu rancor.